[Roda de Conversa] Vênus Negra: raça, racismo e gênero


Bom dia, amigos! Hoje venho compartilhar com vocês uma roda de conversa incrível que rolou na última quinta-feira na sala de aula. O tema era sobre raça, racismo e gênero e, com isso, exibimos o filme Vênus Negra para tentar elucidar um pouco nosso conhecimento sobre o assunto. Então, vamos lá?




Sobre o filme


Vênus Negra descreve a história de uma sul-africana chamada Saartjie Baartman, que viveu na Europa do século XIX. Saartjie era uma mulher negra que trabalhava como doméstica na fazenda de Hendrick Cezar, seu então dono. 

Saartjie foi levada à Europa com o cunho de se apresentar nos espetáculos circenses como uma selvagem que foi capturada na Cidade do Cabo. Como qualquer e toda “primitiva” exposta na Europa colonialista da época, tudo tinha que soar como “exótico”, “extravagante”, “exagerado”. Baartman possuía formas corporais bastante redondas, com quadris bastante avantajados, o que era aspecto bastante explorado nas apresentações, e muito reforçado, ainda seu dono a forçava comer muito para que engordasse como se fosse um peru de natal e se caracterizasse ainda mais com a personagem que representava. Saartjie usava roupas coladas em seu corpo a fim de parecer “exoticamente” sensual e atraísse o público. Nos espetáculos, ela ficava dentro de uma jaula, não falava o idioma do local, e era apresentada como a “Vênus Hotentote”.

  




A conversa 


A conversa rolou da seguinte forma, os alunos após assistirem o filme falaram de suas vivências e como viam o racismo na nossa sociedade. Muitos explicitaram situações um tanto comum nestas rodas de conversa, como não perceberem o racismo ou que isso era algo meio chato e ruim, porém, essa mesma realidade se inverteu quando as mulheres tomaram as suas vozes, já que o assunto também tratava de gênero. 
  
Elas evidenciaram algumas das situações misóginas que viveram/vivem dentro de nossa sociedade, mas, uma em questão me chamou muito a atenção foi a de uma aluna negra compartilhou conosco a sua “afrovivência” e explicitou como era sua vida enquanto mulher, negra e periférica e como a sociedade construiu um papel de silenciamento em sua família, sendo mais claro, na percepção de mundo que a sua mãe possui que corroborar com o pensamento racista e de culpabilização da vítima, pois, se ela usa roupas curtas ou se comporta de alguma maneira “indevida” é de sua responsabilidade as ações que possa vir a sofrer, ou seja, isto mostra como a sociedade branca, heteronormativa e patriarcal construiu uma conceito um pouco equivocado na cabeça de sua mãe e de várias outras mulheres e negras, e mostra basicamente o retrato que sua mãe em sua juventude viveu e tenta encontrar nessas reproduções de cunho machista uma forma de evitar que sua filha passe pelos mesmos traumas vividos e tenta protegê-la dos ataques do mundo no qual, uma mulher negra, que possui um corpo exacerbado não pode exibi-lo constantemente pois “atiça” a libido dos homens que enxergam mulheres negras como produtos ou prestadoras de serviços sexuais, porque possui no próprio “gene” um corpo pronto para ser “usado”.  


 Entre essas questões e outras que foram abordadas em sala de aula, uma me chamou a atenção. A participação das pessoas brancas foi mínima, sendo que as mesmas pessoas preferiram se retirar da sala de aula do que participar da discussão sobre raça. Isso demonstra que o racismo é tão estrutural em nossa sociedade que as pessoas brancas nem sequer se comovem ou sente empatia com as questões do outro. Discutir sobre branquitude no curso de produção cultural nunca se tornou tão evidente quanto aquele momento, principalmente para calouros, afinal, construímos produtores de valores e contra a margem da estrutura colonial e, se esses pontos não forem discutidos, podemos estar dando margem a invibilização de um grupo social já marginalizado historicamente. 






Escrito por: Pablo Barreto
Petiano & graduando em Produção Cultural


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